domingo, 14 de novembro de 2010

Espirra Letra - um romance didático

Capítulo I

Filosofia, Pimpela e Minerina a desbravadora
Pimpela é uma dessas pessoas que não entende a razão das coisas: razão de viver, de cantar, de morrer, de dançar, de falar, de reclamar, razão do etc e tal. Enfim, uma pessoa sem razão de ser.
A última vez que vi Pimpela, ela estava atravessando a rua dos Ossinhos de Galinha, esquina com a avenida das penas alvas com semi-alva. Ela estava com uma cara tão amarrada que até fugi do caminho dela e entrei no beco da lata de vinte, e fui direto pro bar do seu Carmelo Bala. Pedi um guaraná com açaí e comentei sobre a cara de Pimpela e ele rindo, foi logo dizendo:
-Hi, coitada dela. Está mais uma vez às voltas com a razão. Agora está chateada com o sobrinho, o Mourinho Carvalho, o rapaz quer estudar filosofia e ela não entende a razão de se estudar algo tão sem razão. Se fosse medicina, ainda vá lá...
Eu escutei e falei para ele:
_ Seu Carmelo, sabe o que eu acho? Que dona Pimpela é quem deveria fazer filosofia.
Ora, pois, por que dona Minerina?
Porque a filosofia vai responder a ela, pelo menos em parte, a razão de algumas coisas.
Olhe, sabe que a senhora está certa? Da próxima vez em que a vir, falarei sobre essa sua idéia.
Pois fale, sim senhor. Isso talvez abra a cabeça dela. Agora, tenho que ir buscar uns livros que encomendei no sebo do seu Arthur Alexandre e fazer algumas compras para a reunião de quinta-feira, onde discutiremos alguns tópicos da vida de Machado de Assis.
Pois, não, dona Minerina. Vai com Deus. Qualquer dia vou a sua reunião para ver como funciona.
Pois, vá, sim senhor, vai ser um prazer.
Saindo do Beco, pela porta lateral, fui dar na rua dos galhos quebrados e seguindo em frente, virei na avenida folhas de figueira para ir no mercado mundo novo. Comprei as coisas da reunião e dali fui direto para o sebo do seu Arthur. Peguei os últimos livros que faltavam de Machado de Assis e dei sinal para um táxi. 15 minutos depois, cheguei em casa, na rua bosque dos morangos, casa da árvore de jabuticaba, em frente ao arvoredo do sr. Almindo Flores. Descarreguei minhas compras e entrei dentro de casa. Arrumei as compras e pus a água do chá no fogo. Antes, um pouquinho de a água ferver, o meu sino-campainha, tocou. Fui ver quem era. Adivinhem só! 
Era Pimpela. E a cara não tinha melhorado ainda.
Abri a porta e pedi que ela entrasse, pois estava fazendo um chá.
_ Olá dona Pimpela, o que a traz aqui?
_ Ah, dona Minerina, eu estou chateada com meu sobrinho, o Mourinho.
_ Por que?
_ A senhora acredita que o menino resolveu fazer filosofia? Qual a razão de filosofia?
_ A filosofia responderia isso pra senhora.
_ Estás louca? Perder meu tempo com algo tão sem substância.
_ A senhora está enganada, a filosofia faria com que a senhora parasse com essa sua mania das razões. Pois encontraria muitas respostas para os seus anseios.
_ Até a senhora com essas loucuras?
_ Não é loucura é realidade, é estudo em cima de estudo. A senhora um dia vai entender...
_ Não quero entender nada. Deixa isso pra lá porque senão a gente vai brigar. Vamos falar do chá que a senhora está fazendo.
_ Estou fazendo um de erva doce com gengibre, vai querer? Ou vai querer saber a razão disso também?
_ Vou querer sim. Pelo menos um gosto bom nessa minha vida.

_ Dona Pimpela, a senhora sabia que esse chá revigora o espírito quebrantado? Que quando alguém está quase pegando uma tristeza é só tomar que a tristeza vai embora?
Ah, dona Minerina, a senhora parece bruxa. Sempre cheia de novidades e chás.
É, a senhora tem razão, eu sou um factótum nessa vida. Acho que todo mundo deveria ser um de vez em quando. De olhos arregalados e sem entender nada, dona Pimpela pergunta: - fac o que?
Factótum é um faz tudo.
Ah, porque não simplifica, um escravo.
Não, não é escravo é um multitarefa.
Esse chá está uma delícia, a senhora tempera com mel por que?
Ah, o mel é um poderoso remédio natural, serve para a prevenção de várias doenças.
loucuravintage
Depois de pôr dona Pimpela, inteirada das qualidades do mel. Deixei que ela falasse das fofocas da rua para desabafar. Falou, falou e cansou. Depois de uma hora, disse-me que tinha de ir e eu não pedi que ficasse, tinha muita coisa para fazer. A reinauguração do Espirra Letra estava me deixando nervosa.

caixa de costura

Continuará...
Espirra Letra um romance didático

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