Todos os escarros foram em vão, meus caros inimigos
nenhuma peste me sobreveio por causa disso
todas as surras me fizeram aprender que não se deve bater em ninguém, mesmo que seja para educar se assim lhe parecer
todos os puxões de cabelo, maninha, fizeram com que minhas raízes ficassem mais fortes e eu pudesse fazer tranças imensas para alcançar a imensidão de meus pensamentos que nunca param de crescer
os beliscões estão debaixo das inúmeras tatuagens nos meus braços, cada uma tem uma história que já fez muita gente viajar
as mordidas inventaram uma habilidade, comer e mastigar bem devagar pois com força e com rapidez eu machuco os alimentos e não me alimento direito
nenhuma porrada, irmãzinha, tirou-me do sério, apenas as palavras machucaram-me profundamente pois com cada uma delas, tão agressivas, eu não soube o que fazer, eram tão graves e duras que nem tive coragem de devolvê-las para você, estão guardadas comigo, adestradas para que transformadas, possa, eu, fazer com elas o que fiz com os escarros, as surras, os puxões de cabelo, os beliscões, as mordidas e as porradas: reciclá-las e pô-las de novo, na roda da vida.
3 comentários:
Gostei muito. Mas durante a leitura lembrei-me de Chico: "E qualquer desatenção, faça,não/ pode ser a gota d'água."E ainda lembrei de Djavan: No amor, a tortura está por um triz/ mas a gente atura, até se mostra feliz/ quando se tem o álibe/ de ter nascido ávido/ e convivido inválido". Gostei também da lembrança do texto de Nietzsche, que conhecia de outro jeito e que me lembra o ditado popular: o que não mata engorda. Um abração.
Jorge, amei o seu comentário. Inteligente e envolvido com as palavras.
Um abraço fraterno.
Simplesmente lindo o texto, Mônica, abarrotado de inspiração - alta prosa poética!
Fabbio
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