domingo, 23 de janeiro de 2011

Para que?

(Pintura de Lucien Freud)

Quando você partiu, levou até o que eu não tinha:

a esperança.

Com uma mão atrás e outra na cabeça,

o desespero da fome de afeto que esvaía-se porta afora,

vi seus olhos procurando o caminho que iria tomar.

Eu não estava mais nesse mundo, era um fantasma desacreditado e nu.

Infame versão de afeição esse tal amar alguém

pra que? pra doer? pra matar?

Com as dispensas internas vazias, teria que buscar ajuda...

Por onde começar se os olhos nem conseguem enxergar de tão inchados de chorar? Como captar a luz? Fazer um chá para acalmar? Ter coragem para se matar? Cadê a força? Onde estão as ferramentas para se usar nessas horas?

Não se consegue entender como alguém pega tanto amor e joga fora, ignora essa energia tão linda e terna e vira as costas sem nem se sentir puxado de volta...

A vida é um brinquedo, chego à conclusão, sem manual.

3 comentários:

Fabbio Cortez disse...

Está na hora de mais um livro, Mônica (por exemplo um digital em Blocos). É muita poesia e prosa poética de qualidade! Você transborda isso, essas feituras incomensuráveis da alma, essa sua sensibilidade sem fim, essa profundez que faz a gente levantar voo e ficar solto lá, no alto, meditando na vida.

Educar com arte disse...

Fabbio, você é um anjo-poeta. Obrigada pelas suas considerações.
Preciso trabalhar muito ainda nessas minhas imagens para conseguir ser um Fabbio Cortez que impressiona pelo que cria.
Um beijo enorme e que a semana seja de grandes achados.

Jorge Willian da Costa Lino disse...

Entrei no teu blog para fazer um comentário sobre as consequências problemáticas da queda do muro de Berlin, acabei lendo outras postagem e preferi comentar este poema: é muito bom. A solidão (estou preparando uma postagem sobre este estado de ser) e os sofrimentos, apesar de tudo de ruim que nos possam oferecer, são boas fontes de inspiração e você as transforma em arte. No sentido belo e transformador desta ação que nos torna mais humanos (criatura e mais criação). Obrigado e um abração.

O patinho feio