
Dona Íris era uma senhora muito
engraçada e amiga que morava no mesmo prédio que eu. Trabalhava desde a hora
que acordava até a hora de dormir. Descendente de escravos de Minas Gerais, ela
sempre pregava a ordem, o trabalho bem feito e o respeito. Ensinava a quem
quisesse, qualquer trabalho de casa: lavar, passar, costurar, cozinhar, cuidar
de marido, dos filhos e o que mais que se referisse às prendas domésticas.
Durante muitos anos, tive o
prazer de conviver no mesmo prédio com essa pessoa incrível que me deu muitas
lições de vida. Ela ficava uma fera quando eu começava a reclamar da vida na
frente dela. E tinha uma frase que ela sempre falava: “toma vergonha nessa
cara, uma mulher nova dessa com preguiça”. Não tinha desânimo que continuasse.
Ao completar 18 anos, resolvi que
iria chamar meus cinco melhores amigos para jantar comigo: Monica, Márcia,
Mardilene, Ivete e Roger. Claro, dona Íris seria convidada, os amigos eram os
que estudavam comigo. Iria chamar mais uns três vizinhos. Ao se aproximar, a
data desse jantar, na semana, um cano da cozinha lá de casa, começou a causar
vazamento no apartamento da vizinha e com isso, obrigatoriamente, teria que ser
feita uma obra imediatamente.
Falei com dona Íris que não ia
mais fazer nada por causa desse problema e ela imediatamente, falou: “Por que
não faz aqui em casa?”. Eu olhei pra ela, e falei: Será que vai caber meus 5
amigos e mais eu e a senhora?. Ao me provar que daria tudo certo, organizei o
pacote, peguei os ingredientes para fazer a comida que eu tinha programado:
estrogonofe de frango, arroz, batata palha e uma salada de rúcula e alface.
Dona Íris fez o arroz e eu o resto da comida. No dia 15 de agosto de 1982, o
jantar foi servido para os meus amigos, numa casa bem organizada, no maior alto
astral. Rimos, conversamos sobre tantas coisas e vidas que nem vimos o tempo
passar.
Aquele aniversário foi o mais
importante da minha vida até hoje por ter ganhado de presente, a solidariedade
de uma pessoa que nunca se cansava de doar e que pouco recebia de volta.
À dona Íris que já não está mais
entre nós, a minha singela homenagem.
Mônica Banderas
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